domingo, 18 de agosto de 2013

Despertar.

De todas as minhas manhãs passadas em Teresópolis, as minha preferidas eram as que eu acordava cedo no domingo, com a temperatura exatamente igual a que está hoje. De moletom - peça que desonra qualquer guarda-roupa, porém, extremamente necessária em uma cidade serrana - e meias nos pés, eu saía do meu quarto e tinha um café quentinho me esperando - já adoçado, hábito do qual me desvinculei, já que hoje só uso adoçante. Comia um pão francês com manteiga e via alguma série que estava passando em um dos canais de ficção científica que minha mãe sempre assiste. Com um pouco de sorte, estava sintonizado na Warner e eu já começava o dia com risadas de alguma reprise de alguma série que já havia sido cancelada há, pelo menos, três anos. Na pior, minha mãe estava ouvindo música - e eu digo "na pior" porque muito provavelmente era algum destes padres pop que me despertavam. Sentava no sofá e recebia o bom dia religioso dos seis poodles. Certamente dali a uma ou duas horas eu brigaria com a minha irmã pelo motivo mais idiota do mundo, como chamar uma amiga mal vestida dela de... mal vestida. Claro que eu fui um babaca todas as santas vezes que eu fiz isso. Mas se existe uma função para os irmãos mais velhos é encher o saco. E se existe uma função para os irmãos mais velhos gays, definitivamente, é zelar para que a irmãzinha não ouça um TEJE PRESO pelo Fashion Police que é a vida. Mas tudo bem. Dali a mais uma meia hora nós certamente estaríamos nos lambendo e, sei lá, ouvindo a trilha sonora de Pokémon trancados no quarto, deitados na cama, contemplando o mato crescente de cujo orvalho perfumava toda a casa. Para a hora do almoço, eu pedia - e quase rezava - que minha mãe fizesse salada de maionese. Ou farofa. Ou os dois. Mas pedia - e quase rezava - para que ela não fizesse o tal do lagarto redondo com aquela linguiça enfiada no meio, com molho de queijo e creme de leite. Eu achava a carne seca. Mas se fosse frango assado com batata, ou bife à parmigiana, a alegria era certa. Domingo era dia de comida especial, algo tão sagrado como o lanche destrutivo de dietas do sábado à noite. Me lembro até hoje da panela gigante na qual eu derramava farinha vagarosamente para a massa de rissole não embolar. Ou, então, de todas as vezes que eu roubava massa de pizza crua enquanto ela estava descansando. Nem sei se minha mãe descobriu que eu fazia isso. E, por mais estranho que pareça, eu realmente gostava de comer aquela massa crua. Provavelmente, muito mais pelo sabor de proibido do que pelo gosto em si. Depois do lanche, ou eu saia às pressas porque tinha algum evento social inadiável - o que, em Teresópolis, irremediavelmente implicava em ficar sentado em algum posto de gasolina jogando conversa fora e bebendo cerveja em lata - se eu tivesse dinheiro - ou refrigerante com vodka barata - se fossem tempos de vacas magras. Ou, se eu não saísse, era mais um pouco de televisão e cama.

Era simples. Bem simples.

 E eu sinto falta disto. Em manhãs como a de hoje, em que, bebendo o meu café, fumando meu cigarro, ouvindo minha música, eu entendo a profundidade do "nosso". É muito mais que DNA. E, ao contrário do que gritei várias vezes, não é um fardo. É amor.

sábado, 3 de agosto de 2013

i'm not okay (i promise)

Dotado de alguma estranha consciência, resolvo pular uma refeição, já que o sono não vem. Um misto de "saco vazio não para em pé" com a same old necessidade de fazer o vazio machucar. Porque a mola propulsora do amanhã é sempre o hoje doloroso. Claro, lembrando que o amanhã já é hoje e certamente todos os planos jamais serão concretizados. Ou teremos chuva ou teremos falta de vontade - informa a previsão do contratempo. Ou teremos manifestação ou teremos desolação - informa o noticiário das inverdades. No final das contas, o que sobra é o conforto sufocante do sofá cinza. Nele jazo.

Resolvi passar algumas fotos do hoje que poderia ter sido meu, caso o impulso e o medo da prisão não me fossem tão inatos. Basicamente, tudo o que eu queria estar fazendo. Mas, de alguma forma, a celebração do sobrepeso e a ostentação estética me ofendem. Me ofendem porque são duas da manhã e eu estou aqui cercado de madeira, com cheiro de cigarro na mão, uma certa fome, e um copo de café já frio.

Somando tudo, é apenas recalque.

São duas da manhã e estou há mais de uma hora respirando fundo o suficiente para dar conta da ansiedade que bateu à porta que eu abri para decidirmos quais sabores de chá inundarão as horas que ainda me restam até o próximo placebo.

Como dividendo, temos a irremediável solidão.